Apresentação de “Laminário” por Jorge Viveiros de Castro
Se muitos escritores começaram como poetas e depois se tornaram contistas ou romancistas – e não faltam exemplos, até mesmo entre alguns nomes consagrados –, é raro encontrarmos um autor disposto a seguir a trajetória inversa.
Com mais de duas dezenas de livros publicados, entre ensaios, contos, novelas e literatura juvenil, Margarida Patriota já conquistou uma legião de leitores e ganhou de quebra alguns prêmios literários. Para quem conhece seu trabalho talvez não seja surpresa a qualidade deste Laminário. Com amplo domínio de todas as ferramentas de seu ofício, da riqueza de vocabulário à variedade de temas, do ritmo à rima, e com um olhar sagaz – e mordaz – sobre as cenas, os jogos, os disfarces do cotidiano, a escritora se mostra plenamente à altura do desafio de encarar a elusiva arte poética. Mais ainda: parece talhada para esta tarefa, como se a poesia já estivesse presente desde sempre, enquanto a prosa vinha a público. Então, aqui, a surpresa é outra.
Aliás, são muitas – são aquelas que vão surgindo a cada verso, a cada poema: no espanto da descoberta, da revelação, do instante mágico em que a escrita se faz arte.
Poesia deste quilate é artigo raro. Com requinte, simplicidade e inventividade, Margarida Patriota reafirma neste Laminário seu talento de escritora: além de transitar com desenvoltura por diversos gêneros, é poeta de primeira linha.
* Jorge Viveiros de Castro é autor e editor da 7Letras